Welcome to our New Forums!

Our forums have been upgraded and expanded!

Secção dos Deuses

Egon

Well-known member
Joined
Sep 19, 2017
Messages
2,872
Website
odysee.com
Karnonnos [Guardião Templar]:

Saudações a todos. Publicarei toda a secção atualizada sobre Deuses e Daemons neste tópico, incluindo os Rituais dos Deuses mais antigos, lançados antes da minha tarefa, e artigos atualizados com novas informações [como as cartas de Tarô para Khnum, Asclépio, Forcas, etc.]. O título aqui será atualizado a cada nova adição.

MAAT

ANÚBIS

AMON RÁ

-----

Maat é a Deusa egípcia da ordem, lei, harmonia, equilíbrio e da verdade. Era uma das divindades mais importantes do panteão egípcio e possuía um simbolismo de longo alcance, evocado em todos os cantos da sociedade da grande civilização do Nilo. Era considerada uma representante divina do sistema jurídico no seu todo, mas também a dispositora das estações do ano, dos movimentos dos astros e de outros aspectos gravados na própria natureza.

No cerne da lei egípcia estava Maat, o termo multifacetado que abrange a justiça, a verdade, a ordem e o equilíbrio. Maat não era meramente um ideal ético, mas um princípio divino que assegurava o funcionamento do universo. Dizia-se que os faraós "faziam Maat" e "viviam de Maat", e a Deusa com este nome aparece em relevos de templos, inscrições em túmulos e contextos legais como um símbolo vivo de tudo o que abrangia.

[Maat] era o princípio da ordem correta pelo qual os Deuses viviam e que os homens reconheciam como necessário na Terra e incumbência deles.
— M. Lichtheim

De acordo com a cosmologia egípcia, a Deusa Maat existia desde o início dos tempos, estabelecida pelo Deus Criador (Atum, ou mais frequentemente Re) para garantir o funcionamento harmonioso do universo. Ela representava a ordem natural que mantinha o caos (izfet) sob controlo. No mito heliopolita da criação, Enéade, Maat estava implicitamente presente como o princípio que estruturou o mundo após o caos primordial de Nun.

1753881218876.png


Maat estava intimamente ligada ao Deus Sol Re e era frequentemente descrita como Sua filha. Ela acompanhava Re na Sua barca solar enquanto esta viajava pelo céu e pelo submundo, protegendo-O da serpente do caos Apófis. Sua função como guardiã de toda a ordem moral era destacada neste papel, e as representações raméssidas mostram frequentemente o Deus Solar a segurar a pena da Sua filha.

A ideia evocava a ordem cósmica de uma forma mais abstrata. Aos olhos egípcios, Maat controlava os mecanismos das mudanças sazonais, o movimento dos astros e as condições do ar. A teologia do Império Novo apresentou Maat como o princípio ordenador que acompanhava o Sol, daí a sua pequena mas essencial figura nos barcos do submundo.

Maat era uma das Deusas mais visíveis nas cerimónias públicas. A sua iconografia tornou-se proeminente na era subsequente a Horemheb e atingiu o auge da sua fama durante os faraós raméssidas, quando o Egipto recuperava das políticas ímpias de Akhenaton. A sua imagem manteve-se adaptável ao longo da evolução da civilização egípcia.

Talvez sem surpresa, as cenas em que é retratada ocorrem frequentemente em contextos reais, como o Templo de Seti I e a corte de Tutmés I. A iconografia do Império Novo, utilizando o seu simbolismo para reforçar a ordem, é flagrante e claramente intencional. A ampliação do Templo de Karnak por Ramsés III exibe a Deusa em muitas cenas frontais na Primeira Corte. Além disso, os túmulos de Merneptah, Seti I, Twosret, Ramsés III, Ramsés IV, Ramsés VI, Ramsés VII, Ramsés IX e Shoshenq III apresentam a sua iconografia.

Um aspceto sutil de Maat era a relativa passividade e reverência da Deusa em relação à ordem a que presidia. Maat estava representada na cerimónia da Pesagem do Coração. Era também frequentemente retratada a ligar os Deuses ou o Faraó com o receptor de um ritual. No Amduat e no Livro dos Portões, pintados nas paredes dos túmulos reais, uma pequena Maat, de pé ou sentada, cavalga na proa ou caminha à frente do barco de Re, garantindo a ordem cósmica mesmo na viagem nocturna.

Maat, juntamente com Thoth e Seshat, foi nomeada uma das principais divindades dos escribas (sesh) no Egipto.

Em questões quotidianas, o Egipto era governado por costumes legalistas. Os escribas eram fundamentais. Os aspectos menores da lei, para além da lei capital e da lei do Faraó, não eram idênticos aos sistemas jurídicos modernos. Os litígios a nível local seriam resolvidos em arbitragem com base nas circunstâncias dos indivíduos envolvidos. Os tribunais superiores, com códigos de leis centrais ou capitais supervisionados pelo vizir, poderiam ser recorridos se a decisão destas arbitragens menores não fosse satisfatória para o autor.

A lei era meticulosamente transcrita na burocracia egípcia muito antes de os escribas da China e das primeiras sociedades modernas da Europa começarem a fazê-lo. Milhares de documentos legais sobrevivem, muitos da aldeia de Deir el-Medina, onde os trabalhadores mantinham contratos detalhados e registos de julgamentos; o Papiro Wilbour, que faria o inventário das terras e obrigações fiscais; os Papiros Abbott e Amherst, detalhando investigações de roubos de túmulos; para além de vários documentos de casamento, divórcio e adoção do Período Tardio e da era ptolemaica.

Os escribas garantiam também que não ocoressem abusos de poder e tornaram-se importantes intermediários entre as classes que comunicavam com os tribunais centrais de justiça. Num certo sentido, o escriba e a palavra escrita tornaram-se a "cola" entre as diferentes classes do Egipto.

A equiparação da Deusa da Justiça ao sistema jurídico era de tal ordem que o mais alto juiz secular do Egipto era o Vizir, formalmente nomeado como o Sacerdote de Maat.

Os juízes eram também adornados com a pena de avestruz. O juiz do Supremo Tribunal era o próprio Faraó, que também jurava defender Maat, mas delegava a responsabilidade.

Na sua Biblioteca de História (Livro I), Diodoro Sículo ofereceu uma descrição elaborada das práticas judiciais egípcias, tal como existiam no período romano. Escreveu que, antes do início de uma sessão do tribunal, o juiz principal colocava uma corrente de ouro da qual pendia uma pequena figura feita de pedra preciosa, chamada Verdade. Os julgamentos só começavam quando o juiz vestia este emblema da Deusa, significando que a justiça só deveria ser administrada na presença do poder de Maat.

ἐφόρει δ᾿ οὗτος περὶ τὸν τράχηλον ἐκ χρυσῆς ἁλύσεως ἠρτημένον ζῴδιον τῶν πολυτελῶν λίθων, ὃ προσηγόρευον Ἀλήθειαν. τῶν δ᾿ ἀμφισβητήσεων ἤρχοντο ἐπειδὰν τὴν τῆς Ἀληθείας εἰκόνα ὁ ἀρχιδικαστὴς πρόσθοιτο. τῶν δὲ πάντων νόμων ἐν βιβλίοις ὀκτὼ γεγραμμένων…

ἀμφοτέρων δὲ τῶν ἀντιδίκων τὰ γεγραμμένα δὶς τοῖς δικασταῖς δόντων, τὸ τηνικαῦτ᾿ ἔδει τοὺς μὲν τριάκοντα τὰς γνώμας ἐν ἀλλήλοις ἀποφαίνεσθαι, τὸν ἀρχιδικαστὴν δὲ τὸ ζῴδιον τῆς Ἀληθείας A história do Juiz Presidente.


O [Presidente do Supremo Tribunal] usava regularmente, suspensa ao pescoço por uma corrente de ouro, uma pequena imagem feita de pedras preciosas, a que chamavam Verdade (Maat); as audições dos argumentos começavam sempre que o presidente do Supremo Tribunal colocava a imagem da Verdade. Todo o corpo das leis estava escrito em oito volumes, que se encontravam diante dos juízes...

E quando ambos os litigantes prestavam declarações escritas aos juízes em duplicado, era então exigido que os Trinta declarassem as suas opiniões entre si, e que o presidente do Supremo Tribunal acrescentasse a imagem da Verdade a um dos dois lados da disputa.
— Capítulo 75, Livro 1, Biblioteca Histórica, Diodoro Sículo

SIMBOLISMO DE MAAT

1753881245948.png



Maat é tipicamente retratada como uma jovem idealizada usando uma única pena de avestruz afixada numa faixa na cabeça. Representações em túmulos mostram-na com a pena na mão, atuando como emissária da justiça. Outras Deusas, como Ísis ou Néftis, também podem ser retratadas a segurar a pena.

Um dos principais simbolismos da pena diz respeito à projeção astral e à leveza do Chakra Mediano, juntamente com a leveza da alma após a saída do corpo físico. A Deusa é uma das principais regentes desta parte da alma; seus poderes são pouco compreendidos.

A pena evoca a leveza e a graça da Verdade. Por ser tão leve, pode ser empurrada para qualquer lugar e em qualquer lugar. Ela aponta também para a pena de pelicano de Thoth. O conhecimento é um dos muitos braços da Verdade. Tanto Maat como Shu eram simbolizados apenas pela pena, e o nome para esta em egípcio era "shut".

O homem que faz justiça a todos foi representado pela pena de avestruz; porque esta ave, ao contrário das outras, tem todas as suas penas iguais.
—Hieroglyphica, Horapollo

Tal como na língua inglesa, onde surgiu uma curiosa convergência da palavra para “light” tanto no peso leve como na propriedade da iluminação, também as duas ideias partilhavam um simbolismo sobreposto no mistério egípcio. Maat era vista como uma Deusa do prisma de luz que dissipava representativamente todas as trevas e ignorância.

Sendo um símbolo de ressurreição, os ovos de avestruz foram descobertos em túmulos do antigo Egipto e da Núbia como uma espécie de oferenda funerária. Acreditava-se que as cascas dos ovos de avestruz serviam de alimento para os mortos e, por isso, simbolizavam a ressurreição e a vida eterna — uma crença que continuava a ser encontrada nos túmulos muçulmanos.
Ostrich Egg and its Symbolic Meaning in the Ancient Egyptian Monastery Churches, Dra. Sara El Sayed Kitat

Frequentemente, ela é retratada com duas asas, de forma semelhante a Ísis.

As cenas do faraó a oferecer uma pequena estatueta de Maat a outros Deuses são extremamente comuns, proliferando em imagens sacras até ao final do período romano. Este tipo de simbolismo sugeria que o governante do Egipto demonstrava que mantinha vivas no seu reino a Verdade e a manutenção das Leis.

Maat é frequentemente equiparada a Tefnut em aspecto, que representa o princípio criativo na formação do mundo. É retratada desta forma como irmã de Shu, um Deus intimamente relacionado com Maat e Anúbis. Na sua forma regular, é considerada a mãe de Seshat. É simbolicamente representada como a esposa de Thoth, embora isso não seja verdade para a própria Deusa.

MAAT COMO UM CONCEITO

Maat como conceito era considerado o motor da civilização egípcia, e a razão para a existência da civilização nos textos egípcios era promover um mundo de Maat continuamente refinado e em evolução que impulsionasse os indivíduos para o Divino, em comparação com a brutalidade da natureza inferior.

Consequentemente, o mecanismo de Maat incorporava um alinhamento crescente com os Deuses para aqueles que eram escolhidos para o fazer.

A cerimónia da Pesagem do Coração era a peça central do papel de Maat na compreensão egípcia. No Ritual, o coração (ib) do indivíduo a julgar era colocado num prato da balança, com a pena de Maat a ocupar o outro. Osíris era tipicamente retratado como o árbitro final do processo. Os Deuses típicos envolvidos na avaliação do processo eram a própria Maat, Anúbis e Thoth, mas também Seshat, Meshqenet e outros. Se o coração fosse mais pesado que a pena, era lançado à besta devoradora Ammit.

Maat era frequentemente representada num papel duplo, e a câmara da Pesagem dos Corações era frequentemente chamada de “Câmara das Duas Deusas”. As razões para tal tornam-se mais óbvias ao examinarmos a forma como Maat era vista na civilização helénica. Era também acompanhada por 42 Juízes e divindades menores.

1753881277277.png



Como se compreende, um aspecto de Maat, como a pena e a lei, exemplificava a leveza de uma alma não adulterada versus a sujeira, os pecados e as transgressões morais de um indivíduo. A tristeza do coração estava ligada ao testemunho de certas verdades relacionadas com estas áreas da vida, que os Deuses podiam sempre ouvir. O duplo caminho aqui era semelhante aos costumes gregos da vida após a morte, como o Tártaro e os Campos Elísios.

Atos abomináveis, ignorância insondável, excessos autodestruidores e maldade podiam tornar o coração pesado para além de qualquer redenção. Um caminho de pura destruição sem utilizar o princípio da criação era o método mais fácil para acabar nas garras de Ammit. Nisto se reflecte a estreita associação de Maat com Ísis (Afrodite), particularmente a virtude do Equilíbrio.

Os textos egípcios e os manuais de instrução associados à Deusa alertam repetidamente, desde o início, contra o uso do medo e da violência excessiva para controlar outros crentes. Isto é explicitamente citado como um abuso de Maat, que tornará ignorantes aqueles que estão submetidos a tal regime, pondo em risco a sua própria alma, mas também a dos outros. A disseminação do medo e da ignorância sem justa causa foi outra grande transgressão.

Num sentido oculto no caminho Zevista, com a purificação espiritual, a pessoa torna-se cada vez mais leve. A energia começa a atingir a Coroa quando os Chakras se abrem e fluem sem obstruções. A sensação de estar preso, amarrado e sobrecarregado dissipa-se completamente. A facilidade total para operar magia torna-se alcançável. A sensação de leveza simboliza a capacidade de atravessar tudo com facilidade e pode ser considerada o oposto de estar preso ou amaldiçoado.

Aquele que dominou e transformou sua alma será, à vontade, leve como uma pena.
—O Tarô e a Transformação Espiritual, Suma Sacerdotisa Maxine Dietrich.

No entanto, um aspecto de Maat que é mal compreendido é um conjunto específico de significados relacionados com a autoprogressão e a apoteose (tornar-se um Deus). Estes significados foram manchados, dado que muitos egiptólogos cruzaram referências à Pesagem do Coração com passagens que fazem referência a simbolismos semelhantes na Bíblia — aí distorcidas para terem um significado nitidamente vulgar e desprezível. Maat é também equiparada à compreensão arruinada e limitada de “karma” do hinduísmo moderno, budismo e os movimentos da Nova Era.

1753881331711.png


O coração não era apenas indicativo do seu peso em relação aos pecados, mas também da integridade do órgão em expressar a própria individualidade e em manter a alma viva o suficiente para desejar a encarnação adequada. Na cultura moderna, tal conceito pode ser transmitido sucintamente em frases genéricas como “seguir o coração”.

Um indivíduo cujos caprichos são completamente controlados por outros, cuja viagem inteira pela vida consiste em cobardia perante a malignidade e que, além disso, põe em risco o curso da lei por não fazer nada, também poderia ser considerado um indivíduo atolado em izfet e apto a ser devorado por Ammit — independentemente de como possamos encarar isso agora.

Textos instrutivos associados à Deusa, como “O Camponês Eloquente”, demonstravam a forma correta de agir e não permitir que os insultos ou injustiças passassem despercebidos. A reparação adequada era vista como uma importante iniciativa individual.

Um indivíduo totalmente passivo poderia ser comparado ao microcosmo de uma civilização que cometeu um erro grave e se tornou sem lei por não utilizar as armas da natureza para proteger o que é valioso. Cada pessoa tinha o dever de defender Maat, não só tentando abster-se de cometer injustiça, mas também não se submetendo a ela sem questionamento.

Eis uma distinção muito importante a fazer entre a religião egípcia e a interminável martirologia do cristianismo e de outros credos escravagistas.

O cristianismo prega a passividade e a condenação sem fim. Os fiascos e os perdedores naturais na vida sempre foram o cristão perfeito, e os principais representantes das nossas civilizações contemporâneas também pregam compulsivamente a autoproclamada vitimização como o ideal mais elevado, enquanto o uso da justiça para proteger os verdadeiramente inocentes é “pregado à parede”, criando uma situação em que as queixas genuínas se podem misturar com ressentimento e mesquinhez — ao ponto de muitas pessoas serem separadas por forças opostas. O caos surgiu como resultado.

“Quando te deitares, guarda o teu coração, pois ninguém terá adeptos no dia da adversidade.”
—Instrução do Faraó Amenemhat I

“Não te deixes chamar ‘idiota’ por causa do silêncio na hora de falar.”

...

“Há quem viva com pouco a fim de poupar, e mesmo assim fica pobre.”
—Papiro Insinger, da Late Egyptian Wisdom Literature in the International Context, M. Lichtheim.

No entanto, isto não se referia apenas a este tipo de indivíduos, mas também àqueles que viviam vidas encantadoras e agradáveis, cheias de distrações, como uma vida vivida sem prejudicar ninguém, mas, em certo sentido, sem fazer nada pelos Deuses, nem por si mesmos. Mesmo esta constituía uma espécie de existência errónea, se não fosse submetida a testes filosóficos e práticos das margens da vida.

Mais importante ainda — para além dos indivíduos iludidos e malignos do inimigo — isto também se aplica aos ascetas do hinduísmo, do taoísmo e de outras religiões que ensinam o desapego à vida, procurando apenas a adesão total à espiritualidade escravagista, sem qualquer motor para estimular o desenvolvimento. Os próprios Deuses reprimiram os poucos que conseguiram atingir níveis avançados, enquanto pregavam o ódio total à vida. O Egipto não adoptou, enfaticamente, a abordagem do ódio à vida para o desenvolvimento espiritual; a Terra Negra era uma civilização da vida.

Nele existe também um código relativo ao Chakra Mediano, para além dos dois signos de Vénus e das Casas mundanas associadas, particularmente a 7ª Casa. Permitir a entrada a “qualquer um” é ter o coração dilacerado por dezenas de mãos gananciosas e lascivas; mas não permitir a entrada de ninguém é encher o coração de arrependimento e deixá-lo apodrecer. Ambos os corações, se tomados por excesso e privação, podem ser devorados por Ammit ou lançados no Lago do Fogo.

“O grande Deus chamado Thoth estabeleceu uma balança para que a Terra fosse medida com justiça.

Colocou o coração oculto na carne para a medida correta do seu dono.

Se um sábio não for equilibrado, a sua sabedoria não terá qualquer valor.

Não se descobre o coração de um sábio se não o tivermos testado em determinada questão.”
—Papiro Insinger, da Late Egyptian Wisdom Literature in the International Context, M. Lichtheim.

Em todos estes casos, o coração torna-se leve. Como poderia ser, quando se é uma bigorna pesada e em queda livre pela vida?

A verdade é que fazer voar o coração implica trabalho árduo, ativando aspectos do eu em desenvolvimento. Não existem atalhos fáceis para tal processo. Parte desta ênfase no autodesenvolvimento para defender o princípio da Verdade é a razão pela qual Maat tem Marte como planeta regente, o que pode parecer inusitado para aqueles que estão familiarizados com a Astrologia. Os Deuses indicaram-me passagens de Assim Falou Zaratustra sobre este assunto:

Criar — eis a grande salvação do sofrimento e o alívio da vida. Mas para que o criador apareça, sofrimento em si é necessário, e muita transformação.

Sim, muita morte amarga deve haver nas vossas vidas, criadores! Assim, sois defensores

e justificadores de toda a perecibilidade.

Para que o próprio criador seja o recém-nascido, deve também estar disposto a ser o progenitor da criança e a suportar as dores do progenitor.
—Assim Falou Zaratustra, Nietzsche

Eis também o código para o simbolismo do Três de Copas de Maat, carta que ela partilha com o litigante da Pesagem do Coração, Anúbis.

1753881352540.png


A carta retrata três mulheres vestidas com túnicas a erguer três taças para o céu em celebração, rodeadas de plantas abundantes. Esta carta transmite tipicamente conclusões que envolvem amizades, associações e celebrações que podem impulsionar um indivíduo para o próximo nível do seu desenvolvimento. Ela diz aos indivíduos para estarem atentos a tais festividades e para não se deixarem sobrecarregar, mas também para não se afastarem delas.

No simbolismo visual do Três de Copas do baralho Rider-Waite, existe um código oculto para os três granthis, ou os nós da alma, que fluem desobstruídos para permitir o fluxo de energia através dos Chakras — uma área dos poderes de Maat que é abordada acima. Esta é uma das razões pelas quais a carta era também conhecida como “Alívio” (Soumisement) na época de Etteilla.

1753881405483.png


Não admira que a carta simbólica dos Arcanos Maiores de Maat seja a carta Justiça virada para cima. A balança e a espada são seguradas por uma mulher coroada e vestida com um manto, sentada num trono entre dois pilares. A cor vermelho-sangue das suas vestes e a cortina entre os pilares representam o planeta regente de Maat.

O seu olhar é absoluto e sereno. A carta para cima da Justiça mostra que todas as ações têm consequências e, se algo de errado foi cometido, tu ou alguém que te prejudicou será responsabilizado. De uma forma mais discreta, refere-se normalmente a uma questão em que falar a verdade é uma necessidade ou onde a verdade é revelada. A carta da Justiça indica, por vezes, que será tomada a decisão mais justa.

A Justiça pode também aparecer de forma geral ao consulente para descrever determinadas ativações e desafios da sua missão de vida. A balança e a espada indicam que pode estar num processo de avaliação ou teste para alcançar o próximo nível. Pode também significar que terá de escolher entre duas questões urgentes que podem ter consequências, independentemente da sua intenção.

Por vezes, a Justiça pode simplesmente aparecer para lembrar o consulente de não ser excessivamente exigente se ele tiver feito pouco para o justificar.

MAAT NO CONTEXTO INIMIGO

Sabe-se também que o falsário Akhenaton distorceu o conceito de Maat para punir os seus inimigos e formular uma ideologia escravagista. É por isso que Horemheb e os seus sucessores aplicaram penas extremas para a distorção do conceito.

Numerosas convenções hebraicas existiram para roubar a ideia da balança desde um ponto inicial, como a literatura Midrash como o Kohelet Rabbah. A literatura judaica liga o julgamento de Maat com o Rosh haShanah.

O Zohar descreve a “Câmara de Mérito”, guardada por anjos encarregados da “balança da justiça”, com méritos a puxar para o prato da direita, pecadores para a esquerda, e presidida por ‘Mozniya’ — uma cópia fajuta mal formulada. O chefe da balança hebraica tem também dois presidentes em emulação de Maat. Esta passagem menciona também a presença de Rá, Thoth e Maat no “lado mau”, que “seduzem o mundo” e julgam aqueles que “se tornam impuros”.

Tais mecanismos tentam impedir que os religiosos hebreus sejam julgados da mesma forma que a “imundície” da Terra — os povos não-judeus.

MAAT NO CRISTIANISMO

Com o advento do cristianismo, as referências explícitas a Maat pelo nome praticamente desaparecem dos textos sobreviventes, pois adoração direta à Deusa teve fim. No entanto, um número intrigante de escritos coptas adapta ou ecoa temas que eram proeminentes no culto de Maat, especialmente no que diz respeito ao julgamento após a morte, o que também se assemelha ao conceito emergente na literatura rabínica.

Um dos mais ilustrativos é o Apocalipse Copta de Paulo (parte da biblioteca de Nag Hammadi, século IV d.C.), onde o apóstolo Paulo vive uma ascensão visionária e, a dada altura, se depara com uma pesagem de almas. Neste texto, as almas dos mortos são pesadas em balanças por uma figura divina para determinar a sua retidão — um claro paralelo à antiga “pesagem do coração” diante de Maat, inserida numa estrutura gnóstica cristã.

Outro exemplo encontra-se na lenda posterior de um santo copta, A História de Butrus, o Asceta, preservada num sinaxário árabe-copta (era medieval). Nesta história, o avarento Butrus tem um sonho sobre o seu julgamento pessoal, semelhante ao medo judaico do “outro lado”:

Butrus viu uma balança erguida e uma multidão de seres negros e feios a carregarem os seus pecados e injustiças para colocar no prato esquerdo da balança, e uma hoste de anjos brilhantes a colocar todas as boas ações no prato direito.
—A História de Butrus o Asceta, Sinaxário Árabe Jacobita.

Boécio, autor romano tardio e apologista cristão, escreveu uma obra intitulada A Consolação, que se baseava em determinados temas que explicavam a natureza da ordem e tentava hibridizar temas platónicos com a Igreja Católica a que servia. Esta obra representava um diálogo imaginário em que a Filosofia, personificada como uma mulher (conhecida como Senhora Sabedoria), defende que, apesar da aparente desigualdade do mundo, existe um poder superior e todo o resto é secundário a esta Providência divina.

1753881420821.png


Cena de Consolação da Filosofia, de Boécio, Escola Francesa (séc. XV)

Era típico representar a Senhora Sabedoria nas convenções estilísticas medievais como possuidora de duas penas ou asas, retiradas das histórias de Boécio. Infelizmente, a popularidade desta obra desencadeou muitas das principais tentativas do cristianismo para se apropriar da virtude e sabedoria helénicas.

Através da demonologia inimiga na Europa medieval, Maat foi reformulado como o Demónio chamado Morax, alternativamente chamado Foraii ou Marax, aparecendo ao mago como um touro que ocasionalmente assume a face de um homem ao dar conselhos aos sábios:

Morax, também conhecido por Foraii, um grande conde e presidente, é visto como um touro, e se toma para si o rosto de um homem, torna os homens extraordinariamente astutos em astronomia, em todas as ciências liberais: dá bons familiares e sábios, conhecendo o poder e a virtude das pedras e ervas que são preciosos, e governa trinta e seis legiões.
—Pseudomonarchia Daemonum, Johann Weyer

As ciências liberais representam também uma espécie de código relacionado com as funções de Maat. Em primeiro lugar, todas as artes liberais representam um desejo de compreensão universal baseada na ordem universal. Na Europa medieval, o estudo de tais assuntos significava o estatuto de homem livre, do qual se esperava que compreendesse as virtudes e os códigos da sociedade em que vivia — daí o termo liberalis, que significa “o que se espera de um homem livre”.

Sete artes liberais — música, aritmética, geometria, astronomia, retórica, gramática e lógica — existiram, refletindo a primazia do número sete como veículo do karma e a sua ligação central com a própria Maat. Estas artes, particularmente o trivium dos escribas, eram centrais no estudo do direito. Enquanto Maat permaneceu demonizada em grimórios ou referenciada alegremente como a “Senhora Sabedoria” nas convenções medievais, tais artes foram ridiculamente creditadas como pertencentes ao excremento “virgem Maria”:

Está escrito: “A Sabedoria construiu para si uma casa, lavrou para si sete colunas” (Provérbios 9:1). Esta casa é a Santíssima Virgem; as sete colunas são as sete artes liberais.
—Mariale in Evangelium, Alberto de Colónia.

O código para conhecer a astronomia, por si só, relaciona-se com as propriedades sazonais de Maat.

MAAT NO ISLAMISMO

No islamismo, o termo principal para a “balança” utilizada para pesar os actos humanos no Dia da Ressurreição é al-Mizan, que foi descaradamente copiado da religião egípcia e nem sequer escondido, ao contrário do judaísmo ou do cristianismo. Isto é explicitamente mencionado várias vezes no alcorão:

وَنَضَعُ ٱلْمَوَازِينَ ٱلْقِسْطَ لِيَوْمِ ٱلْقِيَٰمَةِ فَلَا تُظْلَمُ نَفْسٌ شَيْـًٔا ۖ وَإِن كَانَ مِثْقَالَ حَبَّةٍۢ مِّنْ خَرْدَلٍ أَتَيْنَا بِهَا ۗ وَكَفَىٰ بِنَا حَٰسِبِينَ

Estabeleceremos uma balança de justiça para o Dia da Ressurreição, para que nenhuma alma seja tratada injustamente no mínimo. E se houver pelo menos o peso de um grão de mostarda, nós produzi-lo-emos. Fazemos excelente conta.
—Ǫur'an 21:47

وَٱلسَّمَآءَ رَفَعَهَا وَوَضَعَ ٱلْمِيزَانَ أَلَّا تَطْغَوْا۟ فِى ٱلْمِيزَانِ ﴿٨﴾ وَأَقِيمُوا۟ ٱلْوَزْنَ بِٱلْقِسْطِ وَلَا تُخْسِرُوا۟ ٱلْمِيزَانَ

E ele levantou os céus e pôs a balança (al-mizan), para que não transgredisseis na balança. Estabelecei o peso com justiça e não defraudeis a balança.
—Ǫur’an 55:7–9

Os comentadores muçulmanos também tinham grande conhecimento da presença de Maat entre as Deusas pagãs. Eles escreveram:

“Eles (os antigos juízes do Egipto) costumavam usar, pendurada ao pescoço, uma pequena figura dourada de uma mulher segurando uma balança e uma pena, para que todos os que a vissem soubessem que ela pesava os seus actos com Verdade.”
—al-Khitat, Al-Maqrizi

O historiador do século IX Ibn Abd al-Hakam, na sua Conquista do Egipto, relata uma história possivelmente apócrifa: quando o califa Umar recebeu o tesouro do faraó, entre eles foi encontrado um ídolo ou gravura de uma mulher com uma espada numa mão e uma balança na outra, que os conselheiros de Umar interpretaram como uma representação da Justiça.

BIBLIOGRAFIA


Instruction of Pharaoh Amenemhat I

The Library of History, Diodorus Siculus

Sobre Ísis e Osíris, Plutarco

Hieroglyphica, Horapollo

Mariale in Evangelium, Albert of Cologne

Al‑Khitat, Al-Maqrizi

Assim Falou Zarathustra, Friedrich Nietzsche

Maat: The Moral Ideal in Ancient Egypt, Mowlana Karenga

Insinger Papyrus, from Late Egyptian Wisdom Literature in the International Context, M. Lichtheim

The story of Butrus the Ascetic, Jacobite Arab Synaxarium

Ancient Records of Egypt: The Eighteenth Dynasty, James Henry Breasted

Ostrich Egg and its Symbolic Meaning in the Ancient Egyptian Monastery Churches, Dr. Sara El Sayed Kitat

"The ancient Egyptian concept of Maat: Reflections on social justice and natural order", R.J. Ferguson

CRÉDITOS:

Karnonnos [Guardião Templar] (texto)

Power of Justice [Guardião Templar] (edição estilística, gramática e sintaxe)
 
Anúbis foi um Deus muito importante do Antigo Egipto que, sem dúvida, mesmo nos tempos modernos, é um dos Deuses mais famosos da Antiguidade e um dos símbolos mais duradouros do Egipto em geral. Era conhecido como o Deus do Submundo e estava fortemente associado à mumificação e aos ritos funerários. Muitas cenas de Anúbis na arte egípcia antiga retratam-no a guiar os mortos como um psicopompo, embalsamando o defunto e pesando o coração na balança de Maat.

O simbolismo de Anúbis no Egipto é prolífico e extremamente difundido tanto em escala como em frequência, embora apenas esteja ligado a alguns mitos. Ao longo da história do Egipto, foi considerado o Deus primordial dos Mortos, ao lado de Osíris.

Na mitologia, Anúbis era considerado filho de Osíris e Néftis, como foi elaborado mais notavelmente por Plutarco. Quando Osíris é desmembrado por Set, é Anúbis quem mantém os órgãos do pai seguros e à mão. Noutro mito, como o do Papiro de Jumilhac, o Deus canino esfola Set quando este se transforma num leopardo para atacar o cadáver de Osíris, que jazia em paz.

Tais associações levaram Anúbis a ser representado como o principal embalsamador dos mortos e a principal divindade envolvida na mumificação.

Esta preocupação reflecte o papel de Anúbis como o Deus que molda as almas dos indivíduos post-mortem para que possam acomodar outro corpo ou existência. Entre os Deuses, é também o Guardião mais proactivo dos mortos e o mais consultado em todos os assuntos dos funerais e da passagem de uma vida para outra — um papel que o liga directamente a Maat e a Néftis. Enquanto Set reina sobre o reino dos ignorantes e Osíris reina sobre os justos no céu, Anúbis ocupa uma zona intermédia entre os dois.

Insaciável na guarda dos mortos, como Guardião dos túmulos, Anúbis era considerado o responsável por castigar aqueles que perturbavam os mortos ou perturbavam a ordem cósmica. A crença popular conferia-lhe uma autoridade quase judicial a favor dos mortos. Como registado na tradição egípcia posterior: “Anúbis e o seu exército de mensageiros eram encarregados de castigar aqueles que violavam túmulos ou ofendiam os Deuses”. Se alguém roubasse um túmulo ou cometesse algum mal, o povo comum esperava que Anúbis vingasse o espírito ofendido.

Para a maioria das pessoas, este aspeto de Anúbis tinha implicações práticas, pois podia ser invocado para vingança ou proteção. Amuletos, pinturas em túmulos e maldições inscritas mostram que os egípcios invocavam Anúbis regularmente para proteção e vingança. Um aldeão podia invocar Anúbis para amaldiçoar um ladrão de túmulos ou para proteger a sua casa de magia malévola. Esta dupla imagem, sendo tanto um guia benevolente para os justos como um feroz castigador dos perversos, fez de Anúbis uma figura profundamente proeminente aos olhos dos egípcios comuns, que reforçavam a ordem moral (maat) na crença quotidiana.

Um dos principais festivais de Osíris era o Festival Wag (Festival dos Mortos), um rito anual focado nos mortos. Pequenos barcos funerários eram flutuados e faziam-se oferendas. Anúbis recebia implicitamente algumas destas devoções, embora Osíris fosse o foco principal deste festival. As “Cartas aos Mortos” (mensagens inscritas em taças ou papiros por parentes vivos a parentes falecidos) incluíam frequentemente ameaças de apelar a Anúbis ou Osíris se o espírito do falecido não parasse de os perturbar. Tais cartas demonstram que os plebeus acreditavam que Anúbis estava ativamente envolvido no destino das almas e podia mediar entre os vivos e os mortos em seu nome.

As suas funções não se relacionavam apenas com o mundo da morte. Muitas delas estavam profundamente ligadas ao mundo dos vivos e dos que respiram, como o controlo das questões sociais, a verdade e os votos, fortemente indicados na sua relação com o Ritual de Abertura da Boca. O inimigo tentou obliterar todo o conhecimento disso. Sócrates, por exemplo, invoca várias vezes Anúbis, jurando “pelo cão do Egipto” para transmitir a verdade absoluta do que dizia, mas também para invocar as tiradas astuciosas de Anúbis.

Como Deus, os egípcios sabiam que Anúbis lhes podia dar conselhos sobre como lidar com os relacionamentos e a coragem para enfrentar aqueles que eram diferentes deles. A bravura era um elemento importante do seu culto, e este representava, supostamente, o triunfo da vida eterna sobre a morte, juntamente com o desejo de continuar a encarnar e a existir. Num sentido mais amplo, Anúbis rege os aspetos familiares e raciais: questões de sangue e laços.

Os nomes pessoais oferecem outro vislumbre da devoção. Não era incomum que os egípcios de todas as classes sociais nomeassem os seus filhos em honra de divindades como sinal de devoção. Existiam nomes que incorporavam “Anúbis” (Anpu), como Anupu, Anuphotep e Anup-khefa. Isto sugere que o nome do Deus era considerado uma honra para os seus filhos e não estava associado a nada macabro.

No quotidiano, os amuletos de Anúbis eram usados ou colocados junto dos mortos para proteção. Tais amuletos, feitos de faiança ou bronze, tornaram-se especialmente populares no Período Final, quando a prática religiosa pessoal proliferava entre o povo egípcio. Os museus abrigam hoje muitos amuletos de Anúbis do Período Tardio encontrados em túmulos de plebeus. É evidente que o Deus com cabeça de chacal era invocado em nome dos defuntos para os proteger dos perigos.

Os templos dedicados a Anúbis eram chamados Anubaeons. Como testemunho da popularidade do Deus canino, existiam múltiplos templos como estes por todo o Egipto, tendo o sítio arqueológico de Saqqara assumido a maior importância. Os complexos associados a Anúbis contêm normalmente milhões de canídeos mumificados, como os que foram descobertos em Saqqara.

Existiam duas cidades dedicadas a Anúbis. Uma chamava-se Usakai, ou em grego, Cynopolis (“cidade dos cães”). A outra, também dedicada a Wepwawet, chamava-se Zahwaty, ou em grego, Lycopolis (“cidade dos lobos”), que é hoje a moderna Asyut. Vários complexos de templos existiam em ambos os locais.

SIMBOLISMO DE ANÚBIS

1753916116738.png


Anúbis era tipicamente representado como um homem que usava uma máscara de cão ou de chacal. O olho e a testa iluminados, semelhantes aos humanos, eram geralmente mostrados na máscara, indicando a sua parentela com Re ou Osíris. Na maioria das vezes, vestia-se de ouro e branco, simbolizando o seu domínio sobre as dimensões dos mortos.

Os rituais mais significativos que envolviam o simbolismo de Anúbis para um egípcio comum ocorriam durante os funerais. A morte era considerada o domínio da família e ligada ao tema da perseverança na Terra. Enquanto os embalsamadores profissionais (que eram frequentemente sacerdotes de Anúbis) se ocupavam da mumificação técnica, os familiares do defunto participavam em cerimónias nas quais Anúbis estava simbolicamente presente. Por costume, o sacerdote embalsamador-chefe usava uma máscara de Anúbis de madeira ou pintada quando realizava os principais ritos de um funeral.

No Império Novo, tornou-se costume um oficial assumir o papel de Anúbis nas cerimónias funerárias públicas, o que se manteve nos períodos posteriores. Um papiro ptolemaico tardio de Oxirrinco descreve pagamentos a vários participantes de um festival, incluindo o “com cabeça de cão” (kunophis), um ator que representava Anúbis. Tais evidências sugerem que, mesmo em funerais não reais ou em festivais locais de mortos, ter um imitador de Anúbis era padrão. A comunidade podia ver Anúbis “caminhar” entre eles e conduzir ritualmente o defunto até ao túmulo. Os enlutados comuns dirigiam-se a esta figura com petições, tratando-a essencialmente como a presença da divindade.

O cão era o seu símbolo por muitas razões — não apenas pela lealdade dos cães aos humanos, mas também pela sua paixão pela vida, ferocidade, natureza vocal e tendência para se colocarem em grave risco de morte pelos seus donos. As famílias que possuem cães identificam-se com o simbolismo de Anúbis como protetor das famílias e da raça. O cão representa também o princípio social da rotina e do cumprimento das promessas integrais feitas aos outros.

Tal lealdade e vivacidade demonstradas pelos cães eram interpretadas como um simbolismo da lealdade à própria vida.

Em oposição ao cão, o chacal é outro símbolo dualista de Anúbis que se relaciona fortemente com os temas da morte. O chacal é um animal necrófago que se alimenta de cadáveres. O poder da putrefacção, evocando a obliteração e a decomposição, era representado no chacal. No entanto, essencialmente, também o era a ideia de que cada elemento dos mortos poderia ser destinado a um propósito maior e renovado com o tempo.

De um modo geral, o chacal é também um animal solitário, para além da sua parceira de acasalamento vitalícia, com a qual caça frequentemente. Representado na sua esposa Anput, a lealdade e a fidelidade eram fortes elementos do culto a Anúbis. Por isso, o seu culto era popular entre os casais estritamente monogâmicos, assim como as viúvas e os viúvos.

Um domínio de Anúbis estava também relacionado com o amor ou com a influência emocional, onde o tema do coração figurava inevitavelmente. Os feitiços de amor egípcios demóticos eram frequentemente utilizados para “acender o coração” de uma pessoa desejada, utilizando substâncias ou estatuetas. Embora surjam de um período posterior, mantêm o conceito do coração como o locus da emoção que pode ser manipulado magicamente.

A propriedade oculta do coração incluía ser um objeto de magia simpática: controlar o coração de alguém era controlar a sua vontade e amor. Este aspeto de Anúbis em dominação, e a imagem do caçador canino, são referenciados em certos feitiços, refletindo o seu planeta regente, Plutão:

Anúbis, deus da terra, do submundo e dos céus, cão cão cão, usa toda a tua força e todo o teu poder sobre Tier (a mulher em questão), que nasceu de Sophia. Tira-lhe o orgulho, a prudência e a modéstia, e traze-a aqui, aos meus pés, lânguida de paixão, a todas as horas do dia ou da noite, sonhando comigo incessantemente, quando come e quando bebe, quando trabalha e até quando faz amor, quando descansa, quando sonha e quando está a sonhar; quando, atormentada por ti, se apressa, definhando por mim, de todo o coração, a alma cheia de generosidade, oferecendo-se a mim, e cumpre o dever das mulheres para com os homens, servindo para satisfazer a minha luxúria e a dela, nunca entediada, sem vergonha, esfregando a sua coxa contra a minha, a sua penugem negra contra a minha penugem negra [púbis] da maneira mais doce! Sim, meu mestre, traze-me Tier, a quem Sophia deu à luz.
Feitiço de Anúbis da era ptolemaica, Magia e Mistério no Antigo Egipto, C. Jacq

1753916147915.png


1. Anúbis com arco e flecha, fragmento de feitiço de amor, era romana

2. a 4. Simbolismo das estatuetas de Anúbis empunhando arcos, da era ptolemaica à romana


Tanto o cão como o chacal têm bocas largas com focinhos arquetipicamente longos — um código para os poderes da Boca associados a Anúbis. O Deus da Morte estava fortemente envolvido na cerimónia de Abertura da Boca, que marcava uma espécie de graduação para os poderes superiores de comunicação e também desbloqueava certas habilidades após a morte para a alma envolvida. A Boca, referenciada em alcunhas de Anúbis como “latidor”, também concede ao indivíduo níveis de comando muito mais fortes.

A sua cor negra representa a transformação da vida em morte e no solo do Nilo, mas também a absorção da vida no fluxo de todas as coisas e o conhecimento do oculto. A própria Terra Negra foi evocada na pele de Anúbis. Nisto, contrasta com o simbolismo avermelhado de Set e do outro Deus com cabeça de lobo chamado Wepwawet, que está vestido de branco.

1753916160268.png



A forma mais canina de Anúbis está abundantemente representada em túmulos e monumentos mortuários, demonstrando o seu papel de protetor dos mortos contra qualquer forma de arrogância, que vingava. Isto também explica, em parte, a razão pela qual um mangual é segurado pelas patas traseiras, associado à fertilidade. O mangual era um código que representava que a terra dos mortos é mais “fértil” do que os vivos conseguem ver... e que deveria ser utilizado com cautela.

Como seria de esperar, muitos dos seus títulos estão relacionados com o processo de embalsamamento e mumificação.

Outro ponto importante a salientar é que a distinta cor negra da cabeça não está associada ao chacal em si, sendo, antes, um simbolismo. Antes da mumificação, o corpo era coberto com natrão, que o secava e protegia da humidade (e, portanto, das bactérias), após o que a cor do corpo assumia um aspeto mais escuro e negro. Além disso, a cor negra representava a fertilidade para os egípcios, pois era a cor do lodo fértil do Nilo, sendo uma espécie de dualidade. O preto pode ser a cor da morte, mas a morte e a decomposição, por outro lado, podem levar à vida e ao renascimento.

Anúbis, tal como Maat, estava intrinsecamente associado ao ib (coração) do indivíduo, ligando-o à cerimónia da Pesagem do Coração. Durante esta cerimónia, Anúbis atuava como intercessor ou advogado do falecido, tentando elaborar os seus aspetos positivos. Era conhecido como o Guardião da Balança.

Plutarco interpretou também Anúbis como o horizonte (limite) entre os hemisférios superior e inferior do cosmos. O nascer helíaco de Sirius era comummente alinhado com os dias quentes de verão em julho, vulgarmente chamados de “dias caninos do verão”, do κυνάδες ἡμέραι.

A relação com o coração é simbólica porque o Chakra Mediano representa a capacidade de comungar com o astral e é o lugar de onde se emerge após a morte. Juntamente com o embalsamamento, isto é parte do que transmite a frase mágica “AQUILO QUE ESTÁ DENTRO”. Um aspeto de Hermes que lida com o conceito de memória e acesso à alma foi também representado por Anúbis — especialmente no Egipto governado pelos gregos (Hermanubis).

As questões internas da alma tinham também um significado espiritual relacionado com a meditação e com o nível de avanço do indivíduo. A qualidade ou característica do reino acedido pelos mortos dependerá do desenvolvimento do seu corpo, mente e alma na aproximação da verdadeira união — algo também simbolizado por Naberius nas suas próprias representações.

Da mesma forma, o seu título de “Principal dos Ocidentais” é outro código. Isto não se refere apenas à margem oeste do Nilo, onde os mortos eram enterrados, mas também à direção oeste em geral, que representa o ponto de ocaso do Sol e do elemento Água. O elemento Água está ligado aos Chakras Superiores, que governam tudo o que é passado, presente e futuro.

1753916184010.png

Rara representação de Anúbis em forma humana, Museu do Egipto

No Egipto ptolemaico, Anúbis era frequentemente representado ao lado de Serapis (Osíris), semelhante a Kérbero. O seu simbolismo continuou a ser popular em Roma, embora não sem alguns comentários dos romanos mais ignorantes.


1753916194773.png

Painel de mosaico representando Anúbis segurando o Caduceu de Hermes para representar Novembro, pavimento de Cartago.

Para além do simbolismo de julho, Anúbis estava fortemente associado ao mês de novembro, designado como o mês de luto no período romano. O sândalo, a sua planta representativa, era utilizado no processo de embalsamamento, em incensos e noutros rituais. O elemento água é também evidente, dadas as suas associações com a dissolução, transformação, morte, renascimento e submersão do ego.

1753916209312.png


No Tarô, ele está ligado ao Três de Copas invertido. Tradicionalmente, esta carta representava novos desenvolvimentos que eram mais abruptos ou perturbadores do que o seu equivalente na posição vertical. As interpretações modernas enfatizam o isolamento, as celebrações contaminadas e os conflitos entre amigos. Há aqui simbolismo relacionado com a separação do mundo real e a perda de contacto com aqueles que lhe são queridos.

Esta carta pode também enfatizar a necessidade de manter a guarda em alta entre associações e grupos. Ocasionalmente, pode referir-se ao acto da criação que correu mal, incluindo interrupções ou abortos espontâneos. Por outro lado, como Arcadia observou, isto pode ter uma ligação com o facto de a morte nem sempre ser vista como catastrófica no mundo antigo e de ter o seu próprio lugar, mesmo tendo um certo devaneio em comparação com a morbidez dos tempos modernos.

1753916220812.png


A principal carta dos Arcanos Maiores que representa Anúbis é O Eremita. A luz que o Eremita segura, com o seu brilho estrelado de seis pontas, simboliza um farol numa zona desolada e nevada — símbolo do domínio de Anúbis sobre os mortos. A própria estrela de seis pontas simboliza o Chakra Mediano. É interessante que as únicas cartas que representam montanhas nevadas envolvam Anúbis e Kérbero, os Deuses Caninos dos Mortos. Esta carta alude também ao título de Anúbis, “Aquele que Está Sobre a Sua Montanha”.

O Eremita representa o conhecimento que vem de dentro e a autorreflexão, bem como a necessidade de fazer pausas na vida quotidiana ou em rotinas estressantes para se fortalecer. Esta polaridade diferencia-o da Justiça e do Julgamento, que lidam com julgamentos externos. Pode representar a entrada em crescimento espiritual — um complemento ao papel que Anúbis desempenha na cerimónia da Pesagem. Antigamente, era considerada uma carta de advertência, aconselhando a prudência e a circunspeção em relação aos outros.

A carta de Anúbis nos Arcanos Maiores é a Morte invertida, contrastando com Osíris e outros que a representam na vertical. Esta carta pode significar estar sozinho, isolado e recusar-se a aceitar a mudança, mesmo que ela esteja a chegar. A Morte invertida indica frequentemente um apego doentio à rotina, tanto para o consulente como para os outros envolvidos. Classicamente, representava o sono, o nada e a falta de consciência — consistente com o papel de Anúbis na reformulação de um ser de uma vida para outra.

ANÚBIS NO CONTEXTO INIMIGO

ANÚBIS NO JUDAÍSMO


A única menção a Anúbis descreve-o como um Deus dos Avitas:

“Os Avitas fizeram Nibhaz [Inapa] e Tartak…”
2 Reis 17:31

Os chacais ocupam um certo espaço simbólico na Bíblia. Isaías 13:22 e Jeremias 50:39 usam chacais para retratar a Babilónia como desolada e reduzida a um lugar selvagem, uma maldição sobre os mortos gentios.

O Apocalipse grego de Baruque menciona criaturas com cabeça de cão no Segundo Céu — uma litania de indivíduos castigados por “construir a Torre contra” a entidade judaica.

ANÚBIS NO CRISTIANISMO

Arcadia salientou correctamente que certos aspectos de “São João Batista” são sobrepostos a Anúbis, recebendo ambos o título de “Abridor de Caminhos”, embora este também esteja relacionado com Hades e Dionísio (Isaías 40:3). Todos os Deuses estão relacionados com o agreste e com os aspetos de unção.

No culto popular, Anúbis era frequentemente confundido e usurpado pela persona de “São Cristóvão”. Este santo terá supostamente convertido ao cristianismo e dedicado a sua vida a resgatar viajantes para que pudessem atravessar um rio. Tal como o Deus, “Cristóvão” era descrito como tendo 2,4 metros de altura e um aspeto assustador. Acreditava-se que era originário de Marmarica, uma região entre o Egipto e a Cirenaica.

Isto também está relacionado com a carta O Eremita, uma vez que a sugestão de Cristóvão para transportar os fiéis através do rio é feita por um eremita quando Cristóvão diz que não pode jejuar nem orar. Um dia, o santo transportou uma criança para o outro lado do rio, que se revelou ser o Nazareno e desapareceu. O santo converteu então uma cidade de milhares de pagãos sob ameaça de morte, recusando o suborno de um rei em duas belas mulheres (representando Maat). A sua recusa resultou na sua decapitação.

Como “portador” do “ungido”, título dado a Anúbis por resgatar os fiéis de Zeus, Cristóvão recebe orações pela proteção dos defuntos. De forma muito reveladora, Cristóvão é comummente representado em ícones com a cabeça de um cão — mesmo em lugares tão distantes como a Irlanda e a Rússia.

1753916286281.png


As criaturas com cabeça de cão proliferam no imaginário cristão. Agostinho fez referência aos cinocéfalos em A Cidade de Deus, Livro XVI, Capítulo 8. Considerou a possibilidade de poderem não existir ou não serem humanos (o que Agostinho define como um animal mortal e racional: homo, id est animal rationale mortale), mas insistiu que, se fossem humanos, deveriam ser descendentes de Adão.

Muitos comentários medievais subsequentes, como o de Walter de Speyer, alegaram estupidamente que Cristóvão fazia parte de uma raça com cabeça de cão que se alimentava de carne.

É ainda de notar que os textos mágicos coptas medievais (feitiços egípcios cristãos, alguns traduzidos para árabe e latim) mencionam Anúbis em amuletos de proteção. Um feitiço copta contra a febre invoca “Anúbis, que detém as chaves do submundo”. Através de canais como estes, muitas vezes através de monges sírios ou norte-africanos, fragmentos de magia egípcia autêntica chegaram ao folclore mágico europeu. Na Renascença, os estudiosos do ocultismo sabiam que muitos nomes de Demónios e epítetos espirituais em grimórios tinham origens pagãs.

Por exemplo, Cornelius Agrippa, na sua análise das “personagens” mágicas, observou que os Deuses pagãos se escondiam frequentemente por detrás dos nomes dos espíritos planetários. Observou a tendência para interpretar as divindades antigas como anjos ou demónios numa perspetiva monoteísta. Na hierarquia de Agrippa, os aspetos benignos dos deuses pagãos eram classificados como inteligências planetárias (ou anjos), enquanto os aspetos malignos ou proibidos eram considerados demónios goéticos.

Da mesma forma, o inimigo transformou Anúbis no Demónio com cabeça de leão ou ganso Ipos, também conhecido como Ayporos, e deu-lhe o título de “Senhor dos Tolos”, uma zombaria nada subtil das almas dos gentios que se espera serem salvas por Anúbis.

Para demonstrar o seu temor a este Deus, os traços positivos do discurso e do domínio sobre os mortos foram distorcidos em insultos desdenhosos. O inimigo apreciava particularmente o facto de tantas almas no Astral, tipicamente resgatadas pela sua intervenção, se terem tornado inalcançáveis através do cristianismo e do islamismo... essencialmente, a razão indirecta pela qual lhe deram esse título.

Anúbis era frequentemente confundido com Thoth [Hermes] nos textos alquímicos medievais. Comentadores posteriores, como Athanasius Kircher, ligaram explicitamente o simbolismo alquímico aos Deuses egípcios. Na sua enciclopédia Oedipus Aegyptiacus (1652), Kircher tentou decifrar os hieróglifos egípcios e ofereceu interpretações esotéricas: “Hermanubis”, escreveu, representava “o Mercúrio dos romanos, o Hermes dos gregos”, ou por outras palavras, o princípio do espírito volátil.

Numa análise da Mensa Isiaca (Tábua Bembine de Ísis), Kircher identifica uma certa figura com cabeça de chacal como Hermanubis e interpreta os símbolos circundantes: “a cabeça de ibis denota uma divindade da Humidade; a cadeira de mosaico aponta para os estados em constante mudança da natureza, dia e noite, calor e frio...”

ANÚBIS NO ISLAMISMO

Ele foi especialmente desprezado pelo islamismo como o patrono dos cães. Os cães eram considerados imundos e torturados até à morte para provocar pagãos e zoroastrianos, mas também para desarmar as pessoas de uma forma comum de proteção e prendê-las ao jugo do islamismo.

Uma camada extra desta blasfémia (muito semelhante ao sacrifício do bode contra Azazel, que também contém significados em camadas) envolve o desprezo islâmico pelo pacto social. Em muitos países muçulmanos, a fidelidade à sociedade como um todo está no fio da navalha. As mentiras, a corrupção e o suborno são galopantes. A unidade social básica, para além do fanatismo religioso, tem-se deteriorado constantemente, levando a catástrofes como a guerra civil na Síria. Esta é uma das principais razões pelas quais a maioria dos países islâmicos se encontra num estado catastrófico a nível global. O rebaixamento dos cães como seres carniceiros se, no máximo, a animais de guarda detestados, é indicativa de tais problemas nestas sociedades.

BIBLIOGRAFIA

A República, Platão

Sobre Ísis e Osíris, Plutarco

O Asno de Ouro, Apuleius

Greek Apocalypse of Baruch

The Jackal Divinities of Egypt, Terence Duquesne

The Socratic Oath 'By the Dog', The Classical Journal, Robert E. Hoerber

Gods and Myths of Ancient Egypt, Robert A. Armour

The Catacombs of Anubis at North Saqqara. Antiquity, P. Nicholson and S. Ikram

Anubis alexandrin et romain, J.C. Grenier

Magic and Mystery in Ancient Egypt, C. Jacq

Death Dogs, Jackal Gods and the Rediscovery of Ancient Egypt

Ancient Egyptian Views on Death and the Afterlife, Facts and Details

CRÉDITOS:

Karnonnos [Guardião Templar] (texto)

Power of Justice [Guardião Templar] (edição estilística, gramática e sintaxe)

Arcadia [Mão Direita do Guardião] (sândalo, embalsamamento e simbolismo da água, alguma pesquisa de Tarot, pesquisa de passagens do Novo Testamento e de Isaías)
 
Amon Rá, a divindade que canaliza os poderes do Deus dos Deuses em seu aspecto solar, possui atributos bastante misteriosos. Como a força brilhante cujo simbolismo se sobrepõe ao de Amon (Zeus), Re (Apolo) e Ptah (Hefesto), Amon Rá é um dos Deuses mais enigmáticos para um leigo interpretar.

Embora tenha sido um dos Deuses mais proeminentes do Egipto, o tempo e o erro levaram à confusão sobre sua identidade.

Para estudiosos, as tradições dos egiptólogos e todos aqueles que tentam compreender os mistérios da Grande Civilização do Nilo, sempre foi difícil desvendar alguns dos Deuses como as entidades distintas que são, com a maioria das pessoas simplesmente chegando à conclusão de que Amon Rá era apenas uma síntese dos dois Deuses mais importantes (ou seja, Amon e Re) para o povo egípcio. Essa ideia é “verdadeira” em certo sentido, mas também uma conclusão enganosa que ignora a verdade de que ele é uma entidade distinta que interpreta esses poderes de maneira única.

O que agrava todas as tentativas de compreender o que está acontecendo é que Amon Rá simplesmente foi representado na goétia e em outras obras inimigas como “Amon”.

Portanto, é de suma importância esclarecer quem é Amon Rá. O Senhor da Luz ocupou, primeiramente, um papel preeminente no panteão egípcio como o criador contínuo de tudo o que é visível e perceptível, em contraste com o mundo que não podemos ver realmente. A verdade fundamental disso ecoava nos templos: Amon Rá dá forma ao mundo a partir das partes mais elevadas e misteriosas do universo, demonstrada alegoricamente em hinos como este trecho:

Ele abriu a fala de dentro do silêncio: e abriu cada olho, deixando-os ver; Ele iniciou os sons enquanto o mundo estava em silêncio – e seu grito de vitória incontestável circulou a terra.
— Papiro de Leiden

No contexto da realeza, Amon Rá ocupou um papel elevado no culto faraônico desde o fim do Império Médio, depois que os egípcios derrotaram os invasores hicsos e os baniram do reino. O início do Império Novo até o início do Império Tardio foi o período em que sua adoração atingiu seu auge. Ao longo dessa era, inúmeros artefatos, escritos e projetos cívicos ostentam seu nome divino, e seu culto se espalhou de Tebas para praticamente todas as cidades do império.

Embora, como explicado na seção sobre Zeus, Amon, o Poder Oculto, estivesse ligado aos faraós como o árbitro final do mundo e o poder por trás do trono do monarca, Amon Rá assumiu um papel mais direto como a personificação da majestade dotada do faraó e do direito de governar, que todas as pessoas podiam ver, estando lado a lado com o governante. No ápice do poder do Egipto como civilização, é verdade que o Senhor de Karnak era a principal luz do mundo.


1755096116693.png

Amon Rá em forma de cabeça de carneiro equiparado a Khnum, com nove serpentes da iluminação.

A mitologia persistente do culto faraônico estabeleceu suas próprias alegações de que o próprio Amon Rá era o verdadeiro pai do Faraó, um testemunho dos poderes solares com os quais o governante divino do Egipto era dotado. Hatshepsut, por exemplo, abraçou essa convenção com entusiasmo e intencionalidade ao adornar o Templo de Luxor com a história de que Amon Rá era seu verdadeiro pai, que visitara sua mãe antes da concepção, à noite, na Colunata do Nascimento. Sua mera evocação poderia conferir imensa legitimidade.

1755096165209.png

Templo de Amon Rá, Karnak.

Juntamente com os complexos tebanos de Amon, muitos dos grandes templos de Tebas, particularmente o distrito sagrado de Karnak, também eram dedicados a Amon Rá. A principal área sagrada da cidade está localizada dentro do enorme Complexo de Templos de Karnak. O Recinto de Amon Rá, mostrado acima, é a maior e mais significativa parte de todo o templo. Com sua grandiosidade impressionante, esses monumentos serviram continuamente como o principal centro religioso para a adoração do Deus Sol.

O sustento contínuo do próprio Egipto era considerado o reflexo exato do abdômen do faraó, alegórico dos poderes da criação.

A majestade não era a única área da vida à qual sua adoração se referia. É importante entender que Amon Rá era altamente associado à riqueza ativa como um conceito e era estimado como o Deus que podia conceder tanto o uso adequado da riqueza quanto o caminho para o favor dos mais altos escalões. Numerosos textos sagrados do Egipto apontam para sua capacidade de conceder dinheiro e sucesso em questões comerciais.

A existência de ouro físico sugeria o ouro espiritual encontrado no caminho do iniciado, particularmente quando gravado na alma geração após geração como um recurso perpétuo. Bênçãos infinitas provenientes do Egipto invocam e evocam seu nome para esse propósito, o que demonstra que pessoas de todas as classes que buscavam engajamento oculto equiparavam a divindade à descoberta de ouro também nesse caminho.

Ao mesmo tempo, durante o Novo Império, ele passou a ser considerado o protetor justo dos empobrecidos e oprimidos. Atos beneficentes e assistência aos pobres nos templos egípcios eram associados à sua misericórdia. Contos de moralidade mostram indivíduos em apuros que pedem sua proteção, como o conto do sacerdote encalhado no mar, registado no Conto de Wenamun. A percepção de Amon Rá como uma divindade que ajudaria a multidão resultou em uma adoração mais pessoal e devocional, em nítido contraste com a adoração hierática e velada de Amon:

Amon Rá, Senhor dos Tronos das Duas Terras, que ouve as petições dos humildes... És aquele que é misericordioso com aquele que o invoca.
— As Estelas de Deir al-Medina:

Amon Rá não simbolizava apenas a busca por dinheiro em si; em vez disso, sua adoração significava a necessidade de usar os poderes da razão (nous), esforço e paciência para obter riqueza duradoura e frutífera, em vez de imensas riquezas ou alívio concedidos aleatoriamente pelos poderes inconstantes do destino. A associação com a busca por riqueza por meio de tais esforços liga seus poderes aos atributos misteriosos, celestiais e imprevisíveis de Amon (Zeus) em uma forma solar manifesta, combinada com o poder racional e ordenador de Re (Apolo).

Notavelmente, preocupações com a saúde entre os egípcios comuns às vezes levavam os adoradores a implorar por sua intercessão e invocação. Os poderes curativos de Amon Rá estavam ligados à sustentação da força vital representada na serpente e, frequentemente, ao poder de curar crianças, em particular. Um exemplo informativo, abrigado no Museu de Berlim, refere-se a um modesto artesão chamado Nebre, que elogiou Amon Rá por curar a doença de longa duração de seu filho:

aquele que vem ao clamor do pobre; quando clamo a ti na aflição, tu vens e eu sou salvo…
— Nebre Stela

Nisto, havia um lado mais sombrio, punitivo e dualista do Deus, que só poderia ser levado a ajudar após ser fortemente implacável em seu julgamento inicial:

Grande em punição, mais poderoso que Sekhmet como um fogo intenso, sublime em misericórdia, que cuida daqueles que o louvam, que se afasta (de sua ira) para curar o sofrimento.
— Hino de Ramesside, Papiro do Novo Reino

No que diz respeito a questões psicológicas, Amon Rá rege aspectos cruciais da autoconsciência e da individuação. Esse lado punitivo e misericordioso dele mostra o papel que desempenha na proteção dos sábios, dos conscientes e dos sóbrios, capazes de refletir com precisão sobre seus atos, tanto bons quanto maus, em oposição àqueles que se afogam no caos com a mente desorientada. Essa parte de seus poderes está ligada aos poderes purificadores do fogo e se liga fortemente à força da energia da serpente fluindo sem obstruções.

A associação com a profecia é um tema persistente em sua adoração. A razão pela qual seus adivinhos eram consultados geralmente envolvia pessoas que queriam saber o que fazer em sentido ativo. Os buscadores de oráculos desejavam soluções racionais quando recebiam certos presságios divinos dele, que até tinham categorias distintas incessantes.

Ele está intimamente associado a Re e Hórus, e os dois Deuses falcões são os atendentes e subordinados de Apolo, o que é uma das razões pelas quais a imagem da cabeça de falcão é usada liberalmente para todos os três Deuses.

Um hino a Amon Rá… dando calor de vida a todos…

[…]

Feito em Poder por Ptah, belo filho do amor.

[…]

Suspensor dos céus, que espremeu a terra.
— Hino a Amon Rá

Portanto, parte do segredo por trás das funções de Amon Rá reside em sua materialização do que Amon (Zeus) governa, dando-lhe forma solar através do sopro da vida e uma presença visual compreensível a todos. Títulos do Hino de Amon Rá encontrados no Papiro de Leiden, como “o único Deus que se fez na multidão”, indicam as maneiras pelas quais ele está persistentemente envolvido na criação dos seres humanos.

Corolário disso é sua outra associação com Ptah (Hefesto) e o simbolismo de ser primogênito. Ptah moldou os corpos dos seres humanos como a obra-prima dos Deuses na Terra, enquanto Amon Rá sopra o sopro da vida em todas as pessoas, marcando o estágio final da reencarnação. O título completo deste Deus é Amon Rá Ptah com uma divisão tripla de poderes que se aplicam à extensão do universo.

SIMBOLISMO DE Amon Rá

O simbolismo de Amon Rá é um assunto difícil de desvendar. A situação nos obriga a dizer o que ocorreu aqui, mas mesmo no próprio Egipto, o código espiritual do Senhor das Duas Terras estava oculto.


1755096196905.png

Estatueta de Amon Rá banhada a ouro de Tebas, © The Trustees of the British Museum . Compartilhada sob a licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional (CC BY-NC-SA 4.0).

Um símbolo no Egipto pode ter uma multiplicidade de significados. Isso significa que um símbolo que qualquer pessoa pode ver pode ter significados diferentes para:

  • um plebeu
  • um novo iniciado
  • um praticante intermediário
  • um sacerdote das escolas mais altas
O mesmo símbolo, portanto, poderia ter muitos significados diferentes. Uma pintura de Amon nos túmulos poderia representar ambos Amon e Amon Rá ao mesmo tempo, mas aspectos da interpretação (por exemplo, a coroa que ambos usam) poderiam significar coisas distintas dependendo se a pessoa está contemplando Amon ou Amon Rá.

1755096210159.png


Este tipo de representação de Amon poderia ser ambos, assim como a variação de pele azul ou verde. No caso de Amon Rá, há um silabário visual distinto aqui, se alguém estiver inclinado a vê-lo dessa forma. Observe, por exemplo, o cinto em ângulo reto preso onde está o Chakra Solar 666.

Amon Rá carrega o ankh como muitos Deuses, mas neste caso, o ankh assume importância primordial. Como mencionado acima, ele é o Deus com o poder de soprar vida em todos os seres vivos. A seção central do Ankh com a alça saindo dela também representa o Chakra Solar e seus poderes para ativar esse processo de evolução.

O cocar ou tiara dourada mostra o poder da realeza e da vida, bem como a incrível riqueza do Faraó e o poder do Sol. As penas do shuti representam o lado ativo do que é visível e invisível, os reinos duais da vida, mas Amon Rá está envolvido em tornar o invisível uma realidade material, ligando-o à pena mais importante.

1755096219250.png


Certas representações, como Amon com o sol em seu cocar, como na imagem acima, geralmente se referem apenas a Amon Rá. Amon, com cabeça de falcão e dotado da cabeça de Rá, é sempre dele.

Ele também é chamado de primogênito, a bela criança e o filho. A imagem de ser filho de Zeus mostra que a manifestação do Deus supremo está sendo trazida do céu para a terra por meio de seus decretos e poderes.

A crença egípcia considerava o sol não apenas nascendo todas as manhãs, mas renascendo completamente, com Re começando o dia jovem e terminando-o velho (algo refletido no famoso Enigma da Esfinge).

Ele também é comumente comparado visualmente a Khnum por ter poderes sobre a vida e pela imagem da serpente, frequentemente representada também como tendo quatro cabeças nessa forma. Por essa razão, como somente Amon, o Senhor da Luz é representado na forma de um carneiro. Khnum é o originador supremo da vida biológica, mas Amon Rá sopra vida em cada vida em si.

Amon Rá rege muitos aspectos do Chakra Solar e seus poderes equivalentes. Ele rege a fase ígnea e purificadora de qualquer iniciado em busca de progresso, particularmente quando os poderes do Chakra Solar são ativados. Seus poderes se relacionam com a faculdade de criação e inspiração, e este é outro código semântico para o “filho” que nasce de todo esforço.

Ele também é um Guardião dos Chakras Base e da Coroa, pois se relacionam com os poderes serpentinos.

1755096237518.png


A carta dos Arcanos Menores que Amon Rá representa é o Cinco de Ouros invertido. Pode parecer estranho que o Deus das Riquezas represente uma carta tipicamente transmitindo pobreza e exclusão de ajuda, mas, invertida, a carta representa a ajuda acenada pela luz da janela.

Os dois indivíduos representados no baralho RWS são um homem e uma mulher vestidos com roupas esfarrapadas, amontoados na neve. Curiosamente, um deles carrega duas muletas que se estendem para fora enquanto caminha. Ao fundo, há um vitral repleto de luz dourada, representando os cinco pentagramas ou moedas em sua arte.

Tradicionalmente, a janela significa que os dois são incapazes ou aparentemente não querem ver a ajuda presente, mas, invertida, que a ajuda está chegando em breve. Outras interpretações incluem o bloqueio da benevolência, da riqueza, de festividades sociais ou até mesmo o afastamento de um relacionamento, situações que agora estão passando. Essa interpretação também pode significar que tal privação foi, em última análise, por um bom motivo que o consulente não consegue ver.

A condição precária dos dois pode até ser lida como falta de higiene espiritual. Como Arcadia observou, a igreja ou templo implica assistência e alívio comunitário, mitigados por Amon Rá.

Embora Amon Rá diga respeito ao domínio do Terceiro Chakra, deve (propriamente) ser o quinto Chakra aberto em sequência. A privação ou o subdesenvolvimento do Chakra Solar leva aos cenários do Cinco de Ouros. Quando a carta é invertida, a janela se torna o ponto focal da imagem, com os quatro Chakras que levam ao Solar na parte inferior sendo enfatizados.

Numericamente, o número cinco em algarismos romanos é representado como um V, como um Graal aberto. Também mostra o encontro paralelo de duas linhas – em contraste com as muletas que o homem usa. O algarismo grego, épsilon, também se junta no meio de cada lado.

1755096257041.png


Entre os Arcanos Maiores, suas cartas são o Sol de pé e o Mago invertido. O Sol é uma carta que exalta o poder, alegria e criação. A imagem de Amon Rá como filho é representada pela criança agitando um estandarte vermelho, vindo adiante. O chapéu que a criança usa com os seis anéis (ou flores) e uma pena pode ser considerado uma alegoria para os seis chakras e a Coroa. Ele também não precisa de sela para cavalgar.

Observe, no entanto, que o cavalo branco é idêntico ao que a Morte monta.

O Sol frequentemente denota gravidez para o consulente ou a concepção bem-sucedida de uma criança, enquanto a maravilha e a alegria de uma criança também são conferidas por ele. De forma mais indireta, a positividade e a sinalização de um período criativo são frequentemente transmitidas por sua presença nas leituras.

Ele também representa amplamente a iluminação e a verdade em todos os assuntos, que é um tema importante de Amon Rá. Tradicionalmente, às vezes representado como Éclaircissement, o Sol lida com clareza e elucidação, o principal sinal de avanços.

O Mago invertido, retratado com um fundo amarelo brilhante nos baralhos Rider Waite, pode servir como um aviso para não deixar a dúvida sabotar o consulente ou outros questionados. A carta frequentemente demonstra a necessidade de invocar a força de vontade para se envolver adequadamente com a vida e para dar manobras.

Também pode significar trapaças por parte de outros; aqui, parte da alegoria é que Amon Rá tem o poder de dar e tirar, como explicado acima. Se algo parece bom demais para ser verdade, mas repousa sobre alicerces instáveis, assim como o Chakra Solar pode ser sustentado por dois Chakras defeituosos abaixo, há um aviso sobre sua validade. O ditado “nem tudo que reluz é ouro” é verdadeiro.

Observe também que uma das mãos do Mago aponta para a Base e a outra para o céu. A parte superior da taça se aproxima do Chakra Solar. A taça, a espada, o pentagrama e a varinha sobre a mesa são indicativos dos quatro elementos.

1755096267795.png

Quatro esfinges com cabeça de carneiro representando Amon Rá no Precinto de Amon Rá em Karnak, Tebas

AMON RÁ NO CONTEXTO INIMIGO

AMON RÁ NO JUDAÍSMO


Além de Amon [Zeus], que é insultado em várias áreas da Bíblia (mais sobre isso em breve no site), Amon Rá é referenciado inúmeras vezes na Bíblia como uma força antagônica.

És tu melhor que Tebas, situada às margens do Nilo, cercada de águas?

O rio era a sua defesa, as águas, a sua muralha.
— Naum 3:8.

Naum aqui conclama amplamente os judeus a suplantar e superar a majestade da grande cidade sagrada egípcia de Tebas. Este livro trata da destruição da grande cidade supostamente antagônica aos judeus e da capital do Império Assírio, Nínive, pelas mãos do exército hebreu por meio de oráculos. O império havia sitiado a própria Tebas em sua conquista do Egipto, portanto, é um tipo de provocação.

Esta também é uma alegoria oculta do cerco a todos os elementos protetores dos gentios. Observe que Naum, como um livro dos profetas, é uma reordenação específica do nome de Amon (Amhun).

Outra maldição específica por meio da numerologia e outros fatores é elaborada em Crônicas, onde Amon é retratado como um rei hebreu que retorna à idolatria e é morto:

Manassés dormiu com seus pais, e o sepultaram em sua casa; e Amon, seu filho, reinou em seu lugar.

Amon tinha vinte e dois anos quando começou a reinar e reinou dois anos em Jerusalém.

Mas fez o que era mau aos olhos do Senhor, como fizera Manassés, seu pai; pois Amon sacrificou a todas as imagens esculpidas que Manassés, seu pai, tinha feito, e as serviu;

e não se humilhou perante o Senhor, como Manassés, seu pai, se humilhara; mas Amon se tornou cada vez mais infiel. E seus servos conspiraram contra ele e o mataram em sua casa.

Mas o povo da terra matou todos os que conspiraram contra o rei Amon; e o povo da terra constituiu Josias, seu filho, rei em seu lugar.
— 2 Crônicas 33:21-25

O número 22 pode se referir à unidade e unicidade [somando 4], mas também à presença de sacrifício e queda para a ruína em hebraico, devido à divisão dos dois dentro dos quatro. Esta passagem demonstra a disposição judaica de “suplantar” Amon com um rei judeu arquetípico como Josias (“apoiado por YHVH”).

O alfabeto hebraico também contém 22 letras, o que é uma referência metafísica para seu parasitismo em esforços mágicos. Observe como “seus servos” são mencionados quase como uma entidade estrangeira.

AMON RÁ NO CRISTIANISMO

Em grimórios do inimigos, ele era representado como o demónio chamado Amon, alternativamente chamado de Aamon, ou mais reveladoramente, Nahum:
Amon, ou Aamon, é um grande e poderoso marquês, e aparece na forma de uma serpente, tendo uma cauda de serpente, (cuspindo e respirando) [vomitando] chamas de fogo; quando ele assume a forma de um homem, ele mostra dentes de cachorro, e uma grande cabeça como a de um poderoso (corvo) [falcão noturno]; ele é o príncipe mais forte de todos os outros, e entende todas as coisas passadas e futuras, ele obtém favor, e reconcilia amigos e inimigos, e governa quarenta legiões de diabos.
— Pseudomonarchia Daemonum, Johann Weyer

A referência a ser o príncipe mais forte é, obviamente e claramente, uma referência disfarçada a Zeus. Essa sinalização revela a influência das convenções egípcias de Amon Rá, onde ele é descrito como o Rei dos Deuses. A parte que faz referência a “todas as coisas passadas e futuras” refere-se às suas habilidades de profecia, enquanto a cauda da serpente é alegórica de seu controle desses poderes.

A referência à forma humana com dentes de cachorro e à forma de lobo é uma alegoria dos dois poderes de Zeus e Amon Rá, mas aponta para sua capacidade de destruir completamente. Aqui também há um código de ervas: a planta dens canis (violeta dente-de-cão) era amplamente usada em textos romanos como um agente de cura do estômago e como um emético, embora tenha numerosos semelhantes venenosos.

As crianças são amplamente conhecidas por terem usado dentes caninos reais dos estágios finais de Roma, possivelmente para afastar o mal e transferir a dor de seus dentes, uma ocorrência regular encontrada em túmulos.

A ideia de que ele obtém favor também demonstra seu envolvimento com a criação e a iluminação. Em um sentido mais material, o reino regido pelo Chakra Solar controla promoções e patrocínios. Isso também se refere ao favor dos Deuses obtido com o fortalecimento dessa área da vida.

Colin de Plancy, um dos principais escritores de tratados demonológicos do século XIX, associa deliberadamente Amon Rá ao Deus egípcio chefe no Dicionário Infernal (Dictionaire infernal), descrevendo sua ligação com a divindade de pele azul.

Arcadia descobriu que um dos nomes listados para a ideia goética de Aamon é “Nahum”, em consonância com o livro bíblico de Naum mencionado anteriormente. Isso está conectado ao acadiano naḫāmu (alívio) e mostra que aspectos da maldição da Bíblia chegaram diretamente à goétia.

BIBLIOGRAFIA

Leiden Papyrus

Deir al-Medina Stelae

New Kingdom Papyrus

Egyptian Solar Religion in the New Kingdom: Re, Amun and the Crisis of Polytheism, Jan Assman

Les cultes d'Amon hors de Thèbes: Recherches de géographie religieuse, Ivan Guermeur

De Hymnen aan Amon van papyrus Leiden I, Jan Zandee

Adoration of the Ram: Five Hymns to Amun-Re from Hibis Temple, David Klotz

ANCIENT EGYPT: Amun and the One, Great & Hidden, Sofiatopia

CRÉDITOS

Karnonnos [Guardião Templar]

Voice of Enki [Guardião Templar] (revisão estilística)

Arcadia [Mão Direita do Guardião] (simbolismo solar, informação goética)
 

Al Jilwah: Chapter IV

"It is my desire that all my followers unite in a bond of unity, lest those who are without prevail against them." - Shaitan

Back
Top